sexta-feira, 15 de julho de 2011

CONTO - CHICO PENHA E O FUMO DE ROLO


CHICO PENHA –

Brasileiro, nascido na roça às margens de um ribeirão em uma pequena cidade do interior, onde tinha sua vida comum e pacata de um jovem em busca de seu objetivo na cidade que se formava. Queria ser alguém na vida como qualquer outra pessoa sem esquecer suas origens. Sabemos que para alguns isto é muito comum, mas não para Chico Penha. Ambicioso procura a oportunidade única em uma cidade pequena para época e com um comercio agropecuário em alta. Então nosso Chico Penha lança-se ao comercio do Fumo de Rolo aos seus 19 anos onde nesta época o produto só era encontrado nas grandes capitais através de comerciantes viajantes.
Alugou uma pequena venda vazia e suja com seus poucos trocados no Mercado Municipal, onde se colocava a comercializar o Fumo de Rolo para os transeuntes da cidade. Homem de personalidade forte e coração humilde e de poucas palavras.
Seu pequeno comércio começou a tomar vida e ser conhecido na região que cercava a cidade, pessoas humildes, homens de bens, militares e políticos da cidade começam a freqüentar a banca do fumo de rolo de Chico Penha. Por poucos trocados compravam-se gramas do fumo onde era enrolado em palha seca que ele mesmo recortava dando sentido ao cigarro fino e comprido.
Com seu gênio forte controlava tudo e a todos que tentavam enganá-lo, pois era muito jovem e a astúcia e cobiça pelo seu crescimento começava a incomodar alguns comerciantes viajantes. Sozinho foi crescendo sem empregados, pois seu lema era “desconfio por ser desconfiado”, um lema estranho, mas funcional para época. Sua própria sombra o atormentava como um algoz felino em busca de comida, mas para Chico Penha, um jovem forte de espírito sempre buscava o amanhã, pois o hoje já era passado.
O fumo de rolo que era conhecido nas capitais foi tomando espaço naquela cidade, outros tentavam concorrer pela inveja financeira, mas sem sucesso. E a pergunta de todos se vinha à tona “O que será que o fumo de rolo do Chico Penha tem que os outros não conseguem vender o mesmo fumo”. Sua qualidade especial era o conhecimento do gosto forte de cada freguês, o simples corte fino e correto nas grandes cordas de fumo, o enrolar do cigarro e o prazer do cheiro era o essencial para cativar as pessoas ao seu redor. No balcão uma pequena balança com pesos e um canivete no bolso, era tudo que se precisava para vender seu fumo. O fumo de rolo vinha de viajantes sem saber justamente de qual cidade de cultivo, vinha em grandes fardos pesados onde era separado em cordoalhas menores. Chico Penha torna-se um mestre do comercio deste produto e avança cada vez mais. Conhece então Maria, uma menina glamorosa, linda, charmosa, cheirosa e muito tímida acompanhada pela sua família. Com suas mãos finas, cabelos sedosos e longos, pele macia e rosada, mas mostrando também seu lado cultivado pelo trabalho que fazia junto aos seus pais. Chico se apaixona, vê o mundo desabar, o chão tremer e sair dos seus pés.
Como sua banca era logo na entrada do Mercado, não tinha como não ver aquela linda flor adentrar com seu longo vestido de algodão trabalhado a mão. Seus olhares se viram trocados, mas Maria abaixa o olhar onde acompanhada pelos seus pais foram fazer sua compra. Chico Penha nunca tinha visto aquela flor em situação alguma no Mercado, queria se apresentar de qualquer maneira, mas seu cheiro forte com o Fumo sentiu-se envergonhado e pensa por dentro de si... ”Eu, um pobre comerciante de fumo, como poderia conhecer uma tão bela moçoila, de fino trato onde seu perfume se compara com as flores de um jardim...”, mas nosso Chico não descansa, tenta descobrir uma maneira, noites sem dormir já deixava de abrir sua banca diariamente, seu pensamento estava centrado em saber onde Maria morava, qual casa da cidade ou sitio da redondeza? Perguntava a várias pessoas e ninguém, ninguém sabia dizer quem era Maria.
Seus clientes já reclamavam pela banca fechada quase todos os dias, barba por fazer, banhos não tomados e até que em um sábado ensolarado novamente adentra pelo portão principal do Mercado Municipal, Maria, acompanhada novamente de seus pais e o capataz para fazer a compra do mês que era costume. Chico larga tudo e a todos e depara a frente da moçoila tímida e cheirosa. È empurrado pelo capataz da família caindo ao chão, ameaçado de ser confundido com um bêbado ou pedinte. Maria impede tal agressão e diz que estava tudo bem. O cheiro forte do fumo em suas roupas então se torna um pequeno grão de arroz e ali começa uma linda historia de amor onde até nos dias de hoje podemos sonhar que ainda temos nossa flor plantada em algum jardim a nossa espera, esperando ser colhida e acariciada ao toque delicado de seu perfume.
O amor tem seu tempo, sua hora, seu momento, sua história, bastará somente sabermos esperar pelo momento certo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário